Tuesday, August 10, 2010

Te extraño, cariño

en mi nido tu sonrisa

de hajos y plumas

porque levianos

como si fuerán manos,

una trás una
aferrando en la brisa
su instante de aguiño


Te remedo, amada

en todo tu hueco aceno

que encerra el amor de gorra
qual una madre en su hijo
hilando en el cuerpo bedijo
trillos de su modorra:

mi cuerpo de ti ajeno

si ti es en mi tajada



Por eso te exucho, guapa

a tus mistérios y olores

a tus dedos y dientes

escurriendo en mi sueño.
Yo que sin un amaño
y tu una rica serpiente
atosigando en rigores
hasta la boca que empapa.

Carol Bensimon.


Saturday, June 05, 2010

Achei desde pequeno que a minha mãe não gostava de mim, ela nunca disse. Não gosto dela por isso, complexo inútil até pra pastiche, amo mesmo assim. Desde pequeno meu pai me gostou, eu tinha certeza. Gosto dele por isso, mas não da cerveja e portanto não amo. Teve uma Kellen na minha vida que acabou de gostar de mim depois de uma viagem e eu não gosto dela por isso. Amo ela, no entanto; pasmem! Teve uma Luzia que me amou, segundo a própria quase como em lei. Eu digo que gosto dela por isso, mas não amo, eu nunca amei.

Thursday, June 03, 2010

O amor passa quando.

Como tudo passa

E fica lembrando que passou,

Passarinho sem patas

Que não sente do chão a dor

Porque passou voando.

O amor passa, e continua

passando. Não deixa de existir

sem permanecer. Porque embora

passe, penetra e trespassa sem perecer.

Sendo muito menos fumaça

do que qualquer coisa que eu faça:

pedra preta com jeito brando.

Assim aprendemos com o passar dos anos

que a uma pedra escura amamos,

num flerte em banho maria:

toda expressão que tem,

todo o silêncio que emana

toda chama que poderia

todo relevo inerte.

Tuesday, May 25, 2010

Se eu alcançasse não me sentir entregue,
imberbe adolescente com seus dentes de leite,
meu esforço de estimação seria então escrever cartas em homenagem a todas as cidades por que passar. O tempo que for, e disso viver:
nos homens e ruas de qualquer cidade,
dos seus pombos e em todos os seus cheiros mais originais
catar a fímbria da minha pele; supor as fotografias que nunca perceberão
os passantes, a policia, uma donzela e seu cachorro - o trejeito da aristocracia esparso num mendigo louco. Conheceria cada folha do espaço, suas estações de nascimento e morte]
pichações e sua biografia, buracos na estrada, sítios de amores findos
pontos-de-encontro de suicidas, subúrbios de eternos insones, árvores patenteadas pelo hábito. Buscaria a companhia das construções de monumentos anônimos, repudiaria a música dos cantores cegos para, numa delicadeza de verso,
traduzir o meu corpo em cidade. Se eu alcançasse não me sentir entregue
a todos os lugares-comuns que reconheço, descrevo e lamento em cartas
longe de Porto Alegre.
Cada coisa que inventei morri por ela
e em cada morto que fazia eu mentiria
se os remoesse em querelas, qual aborto.

Porém, foi como filho que as tomei, às coisas
que inventei. E por elas hoje velo, me proíbo
e abstenho. Juro minha eternidade, meu nome
e cenho nos contornos em que cada história pressentida,
muitos mais que um soco forte, escondeu os rumos da minha vida
e descobriu o fim da morte.

Friday, May 21, 2010

A três tudo é mais gostoso
um trio não terá vícios senão a festa (ou festim)

mesmo que em triângulo vicioso

terá em cada aresta seu início, seu fim

e sua meta.


é sina que já não cabe:

todo mestre sempre ensina

o que sente e nunca sabe.

Wednesday, April 07, 2010

com apenas a minha vontade o telefone não toca.
Pela vontade também, surdo pedido
não cessam todos os outros sons da cidade. Vontade:
desde a raíz, coisa oca, palavra e sentido.
tenho andado com a postura de quando nos assustamos:
aquele mínimo espasmo, suas feições e reações, seu sentido:
ausência de raça.
Amada,
tenho estado de graça:
por inteiro:
até no sorriso
e inclusive no orgasmo,
em camadas.

Monday, January 14, 2008

Canção às mães que esperam a volta de seus filhos rezando

O fósforo quente
na mão crente
não se desliga
é fé latente

o aceso pau
à reza-deus
é mola à prece
de um deus ateu

crispada estaca
de amor severo
da mãe que vela
seu próprio enterro

finada chama
que nunca finda
a morte de ontem
é hoje ainda

cruz aleijada
sem quê cruzar
busca uma haste
nalgum lugar

esquartejada
cruz secular
aqui uma perna
a soluçar

flor machucada
de mal-cheirar
ali outra perna
a epitafiar:

jaz-se um menino
onde não sei
que talvez vivo
morreu por lei.